Eduardo mergulhou em sua piscina, enquanto nadava pensou em sua casa nos Jardins (Bairro nobre de São Paulo) e é claro, em sua piscina. Ao chegar do outro lado levantou sua cabeça para respirar, enxergou dois chinelos sujos, dois pés enrugados e oito dedos.
Ele então, suspirou e mergulhou novamente sua cabeça na água, quando voltou do fundo, tinha um sorriso nos lábios.
- Então, há quanto tempo saiu? Nem me telefonou.
Eduardo saiu da piscina com um salto e se dirigiu ao bar.
- O telefone que você me deu só dava fora de área.
- É realmente uma porcaria. Eles nunca funcionam.
- Na cadeia até que eles têm serventia.
Os dois riram da piada oportuna.
- Quer uma bebida? Um whisky?
Eduardo percebeu que estava pingando e antes de preparar a dose tratou de se enxugar, em seguida vestiu um roupão. O homem o observava, aquela toalha era tão branca, parecia ser tão macia. Sonhava com uma toalha assim a vida inteira, aliás sonhava com uma vida assim desde que nascera.
- Então, o que você quer?
- A minha parte no assalto.
Eduardo lhe entregou a bebida e voltou para preparar a sua. Ao dar as costas podia ouvir o homem sorver o whisky fazendo um barulho insuportável.
- Gostei da casa, você tem bom gosto.
Antes de se virar e encarar o homem, que agora estava sentado, desfez as rugas de asco no rosto e esboçou um sorriso modesto.
- Como me encontrou?
- Antigos amigos, eles sempre sabem de tudo.
- É verdade – Um gole de whisky e mais uma pergunta – Como entrou aqui?
- Gato é gato, não importa a idade, não é mesmo?
- É, gato é gato, até mesmo nos Jardins.
Os dois riram, lembrando do passado. Foi então, que ouviram uma voz feminina vindo do corredor.
- Amor, você não vai acreditar em quem acabou de sair da cadeia.
A mulher entrou no salão e sem esboçar qualquer reação completou:
- Ah, você já sabe.
O homem se levantou da cadeira como num pulo. A mulher ruiva de olhos verdes, que acabara de entrar no salão, ha dez anos atrás era loira e trabalhava como segurança de banco. Agora ele entendeu tudo, entendeu por que sua arma tinha travado enquanto recebia dois tiros, um no ombro e outro no pé esquerdo, daquela mesma mulher que estava na sua frente. E finalmente descobriu quem era a fonte de Eduardo no banco. O homem suspirou alto e olhou para Eduardo.
- Como sabia que eu não te entregaria?
- Se me pegassem, pegavam os diamantes também.
O homem bebeu o último gole e falou:
- OU eu sou um grande idiota, ou um ótimo professor.
- Que isso pai. Não seja modesto, você pode ser os dois.
Eduardo sorria, agora apontando uma arma para o pai, que com a cabeça baixa observava seus chinelos sujos, seus pés enrugados e seus oito dedos. Ao levantar a cabeça e ser atingido por dois tiros, só conseguiu enxergar o roupão branco e felpudo que seu filho usava, era tão branco, parecia ser tão macio, tão macio.