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Estudante de Jornalismo, taurina e fã do Paul Morel. (Tudo que você precisa saber)

domingo, 19 de setembro de 2010

Era tão macio, tão macio.

Eduardo mergulhou em sua piscina, enquanto nadava pensou em sua casa nos Jardins (Bairro nobre de São Paulo) e é claro, em sua piscina. Ao chegar do outro lado levantou sua cabeça para respirar, enxergou dois chinelos sujos, dois pés enrugados e oito dedos.
Ele então, suspirou e mergulhou novamente sua cabeça na água, quando voltou do fundo, tinha um sorriso nos lábios.
- Então, há quanto tempo saiu? Nem me telefonou.
Eduardo saiu da piscina com um salto e se dirigiu ao bar.
- O telefone que você me deu só dava fora de área.
- É realmente uma porcaria. Eles nunca funcionam.
- Na cadeia até que eles têm serventia.
Os dois riram da piada oportuna.
- Quer uma bebida? Um whisky?
Eduardo percebeu que estava pingando e antes de preparar a dose tratou de se enxugar, em seguida vestiu um roupão. O homem o observava, aquela toalha era tão branca, parecia ser tão macia. Sonhava com uma toalha assim a vida inteira, aliás sonhava com uma vida assim desde que nascera.
- Então, o que você quer?
- A minha parte no assalto.
Eduardo lhe entregou a bebida e voltou para preparar a sua. Ao dar as costas podia ouvir o homem sorver o whisky fazendo um barulho insuportável.
- Gostei da casa, você tem bom gosto.
Antes de se virar e encarar o homem, que agora estava sentado, desfez as rugas de asco no rosto e esboçou um sorriso modesto.
- Como me encontrou?
- Antigos amigos, eles sempre sabem de tudo.
- É verdade – Um gole de whisky e mais uma pergunta – Como entrou aqui?
- Gato é gato, não importa a idade, não é mesmo?
- É, gato é gato, até mesmo nos Jardins.
Os dois riram, lembrando do passado. Foi então, que ouviram uma voz feminina vindo do corredor.
- Amor, você não vai acreditar em quem acabou de sair da cadeia.
A mulher entrou no salão e sem esboçar qualquer reação completou:
- Ah, você já sabe.
O homem se levantou da cadeira como num pulo. A mulher ruiva de olhos verdes, que acabara de entrar no salão, ha dez anos atrás era loira e trabalhava como segurança de banco. Agora ele entendeu tudo, entendeu por que sua arma tinha travado enquanto recebia dois tiros, um no ombro e outro no pé esquerdo, daquela mesma mulher que estava na sua frente. E finalmente descobriu quem era a fonte de Eduardo no banco. O homem suspirou alto e olhou para Eduardo.
- Como sabia que eu não te entregaria?
- Se me pegassem, pegavam os diamantes também.
O homem bebeu o último gole e falou:
- OU eu sou um grande idiota, ou um ótimo professor.
- Que isso pai. Não seja modesto, você pode ser os dois.
Eduardo sorria, agora apontando uma arma para o pai, que com a cabeça baixa observava seus chinelos sujos, seus pés enrugados e seus oito dedos. Ao levantar a cabeça e ser atingido por dois tiros, só conseguiu enxergar o roupão branco e felpudo que seu filho usava, era tão branco, parecia ser tão macio, tão macio.

2 comentários:

  1. Fantástico Su, muito boa a narrativa mesmo, me vi lendo uma história em quadrinhos ou vendo um filme. Parabéns.

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  2. Brigada Marcelo, fico muito contente que esteja gostando. Seus comentários significam muito.

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